12.6.08

Amar - Carlos Drummond de Andrade

Obra: Harry Wilson Watrous - Just a Couple of Girls(1915)

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave
de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Feliz Dia das Namoradas

1 comentários:

Marcos Freitas disse...

Amar é bom demais, Carlos Drummond de Andrade amou como nunca, e registrou tudo isso para a nossa alegria, é o meu poeta favorito, adoro "Quadrilha", é um poema muito atual, q tem muito a nos dizer sobre relacionamentos pessoais.

 
BlogBlogs.Com.Br